quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Eternos insatisfeitos

 

ETERNOS INSATISFEITOS

A praça estava cheia. Havia crianças que brincavam, corriam, e gargalhavam. Algumas imitavam músicos e fingiam tocar flautas. Outras, mais sérias, encenavam lamentos e choros de enterro. Mas, no canto da praça, um grupo assistia a tudo de braços cruzados e expressão carrancuda. Não dançavam, não choravam. Apenas criticavam.

— Tocamos a flauta, e vocês não dançaram! — gritaram as crianças alegres.
— Choramos, e vocês não se entristeceram! — disseram os pequenos que encenavam lutos.

Mas o grupo, imutável, apenas resmungava. Era um retrato de algo muito maior: a insatisfação que permeia corações endurecidos, incapazes de se conectar com o momento, com a proposta, ou até com a vida que pulsa ao redor.

Foi assim nos dias de Jesus. Quando João Batista veio, com sua mensagem dura e sua vida de simplicidade extrema, diziam:

— Ele tem demônio!

Depois, veio Jesus, com Sua mesa aberta para pecadores e Seu convite à alegria no Reino de Deus. E o que disseram?

— É um comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!

No fundo, não importava a abordagem. Sempre havia algo para criticar. O problema não era João, nem Jesus. Era o coração deles. Eternos insatisfeitos, encontravam defeitos em tudo, exceto neles mesmos.

Essa atitude não é exclusiva daqueles dias. Ainda hoje, encontramos pessoas incapazes de se alegrar com o sucesso alheio ou de acolher uma proposta de mudança. Elas sempre veem algo errado no que lhes é oferecido, seja na rigidez de um João ou na liberdade de um Jesus.

Mas a vida não é uma praça de espectadores. Não somos chamados a cruzar os braços e julgar o show. Somos convidados a participar, a dançar ao som da flauta quando a alegria é necessária e a nos entristecer quando o luto é inevitável.

A insatisfação crônica é um reflexo de um coração que se recusa a se abrir, seja para o desafio da correção ou para o consolo da graça. Para os eternos insatisfeitos, o problema nunca está no convite, mas em sua própria disposição.

Talvez, seja hora de descruzar os braços, soltar a crítica, e simplesmente viver. Afinal, a graça e o convite de Deus estão aqui, tanto nos tons austeros de João quanto nas melodias suaves de Jesus. O que nos impede de aceitar?

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