A LÍNGUA
“As palavras do sábio tornam o
conhecimento atraente, mas o tolo só diz bobagens.” (Provérbios 15:2 NTLH)
A língua é, segundo definição encontrada
no dicionário Michaelis, além de outras coisas, um órgão oblongo, achatado, musculoso e móvel da cavidade bucal e que é o
órgão principal da deglutição, do gosto e, no ser humano, da articulação das palavras.
No nosso caso aqui o que interessa a respeito da língua é o fato de ela ser o
órgão que nos permite articular as palavras, ou, em dizer simples: falar.
Quando pensamos na língua humana
como sendo o órgão que o capacita a falar e nas muitas “falas” que ouvimos/lemos
por aí, não podemos deixar de pensar que há gente cuja língua deve ser
preservada, mas outras há cuja língua deveria ser amputada. A língua pode
ser uma bênção, mas também uma maldição; pode ser um instrumento abençoador,
mas também um instrumento portador de infortúnio, desventura, inverdades e
outras coisas mais. Veja a seguinte e interessante história:
Há mais de
dois mil anos existiu um rico mercador grego que tinha um escravo chamado
Esopo. Um escravo corcunda, feio, mas de sabedoria única no mundo. Certa vez,
para provar as qualidades de seu escravo, o mercador ordenou:
- Toma, Esopo.
Aqui está esta sacola de moedas. Corre ao mercado. Compra lá o que houver de
melhor para um banquete. A melhor comida do mundo!
Pouco tempo
depois, Esopo voltou do mercado e colocou sobre a mesa um prato coberto por
fino pano de linho. O mercador levantou o paninho e ficou surpreso:
- Ah!! Língua?
Nada como a boa língua que os pastores gregos sabem tão bem preparar. Mas por
que escolheste exatamente a língua como a melhor comida do mundo?
E O escravo de
olhos baixos, explicou sua escolha:
- O que há de
melhor do que a língua, senhor? A língua é que nos une a todos, quando falamos.
Sem a língua não poderíamos nos entender. A língua é a chave das ciências, o órgão
da verdade e da razão. Graças à língua é que se constroem as cidades, graças à
língua podemos dizer o nosso amor. A língua é o órgão do carinho, da ternura,
do amor, da compreensão. É a língua que torna
eterno os versos dos grandes poetas, as idéias dos grandes escritores. Com a
língua se ensina, se persuade, se instrui, se ora, se explica, se canta, se
descreve, se elogia, se demonstra, se afirma. Com a língua dizemos
"mãe", "querida" e "Deus". Com a língua dizemos
"sim". Com a língua dizemos "eu te amo"! O que pode haver
de melhor do que a língua, senhor?
O mercador
levantou-se entusiasmado:
- Muito bem,
Esopo! Realmente tu me trouxeste o que há de melhor. Toma agora esta outra
sacola de moedas. Vai de novo ao mercado e traz o que houver de pior, pois
quero ver a tua sabedoria.
Mais uma vez,
depois de algum tempo, o escravo Esopo voltou do mercado trazendo um prato
coberto por um pano. O mercador recebeu-o com um sorriso:
- Hum... já
sei o que há de melhor. Vejamos agora o que há de pior...
O mercador
descobriu o prato e ficou indignado:
- O quê?!
Língua? Língua outra vez? Língua? Não disseste que a língua era o que havia de
melhor? Queres ser açoitado?
Esopo encarou
o mercador e respondeu:
- A língua,
senhor, é o que há de pior no mundo. É a fonte de todas as intrigas, o início
de todos os processos, a mãe de todas as discussões. É a língua que separa a humanidade,
que divide os povos. É a língua que usam os maus políticos quando querem nos
enganar com suas falsas promessas. É a língua que usam os vigaristas quando querem
trapacear. A língua é o órgão da mentira, da discórdia, dos desentendimentos,
das guerras, da exploração. É a língua que mente, que esconde, que engana, que
explora, que blasfema, que insulta, que se acovarda, que mendiga, que xinga,
que bajula, que destrói, que calunia, que vende, que seduz, que corrompe. Com a
língua dizemos "morre", "canalha" e "demônio".
Com a língua dizemos "não". Com a língua dizemos "eu te
odeio"! Aí está, senhor, porque a língua é a pior e a melhor de todas as
coisas!
Em provérbios 15.4 lemos que “Uma língua
saudável é árvore de vida, mas a perversidade nela quebranta o espírito”.
Reflita: sua língua é saudável, ou há
perversidade nela? Sua língua é do tipo que deve ser preservada ou do tipo que
melhor fora se fosse amputada?
Cuidado com a língua; cuidado com aquilo
que você anda falando por aí. Que aquilo que a sua língua articula seja qual
uma deliciosa refeição a trazer refrigério para a alma das pessoas e não
infortúnio. Caso contrário... melhor que ela seja amputada.
Pr. Walmir Vigo Gonçalves
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